quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Her Emerald Eyes

Love – and again four luscious letters to define the essence of life itself. The feeling of eternity mirrored by the blank page of everything else. A glittering and crystalline silver line that draws the hearts of men out of their chests to return them, not without pain, fulfilled and revived, taken by the strength of centuries, to the absolute wholeness.
And yet something as innate as a soft and sweet breath is what it takes to unleash the unravelling and deceitful power of Eros. The sculpture of her body and its cold marble stone membrane that gently warms us to the deepest of carnal layers; the transparency of her tears that washes away any trace of sin buried in our cavernous self; the light and occasional touch that puts us together but sets us apart by dividing us between the world of common mortals and everlasting deities; everything about her makes me place my existence in her hands.
But when, I ask, will my self-limited existence be perpetuated by the liquorish flavour kept away from me by her bewildering lips? When will I be able to taste the sugary and tingling essence of immortality that will sweep me from the regular order of things into the staggering dimension of completeness?
That time is still to come; let me rest, laying in the earthly green of grass waiting for her sight to fuse with my presence when she opens her emerald eyes.

Reanimação

Cai uma gota de água numa taça de cristal semivazia, numa sala às escuras onde se encontra apenas um silêncio moldável de argila branca que avança e retrocede num continuum bafiento com os movimentos da nossa respiração. Estamos lá e não estamos. A gota de água materializa-se do nada. O cristal da taça funde-se com o negro niilista que a apaga e descaracteriza, perdendo-se sem a luz que se refracta e reflecte nas suas múltiplas facetas.
Há um quê de familiar no som originado pela gota de água que se mistura, abdicando da sua existência individual, com a restante água já contida na taça de cristal. De repente, já não o é. Fica por breves instantes a recordação da sua efémera presença enquanto as ondas sonoras se difundem e ecoam dentro de um espaço limitado por paredes que não existem, por um ar pesado e palpável que não se respira. Este espaço está dentro de nós, naquele canto da nossa mente que visualizamos sempre que, de olhos fechados, nos concentramos na primeira folha de árvore que, no Outono, se desprende do ramo e viaja até ao chão.
Por vezes, vivemos dentro desta dimensão, esperando que se abra a porta, numa das paredes que não estão lá e que deixe entrar a luz e sair a alma presa por fortes correntes de aço invisíveis que a atordoam, atrofiam e dissolvem numa comunhão perversa com a escuridão.
A porta abre-se então, a taça despedaça-se e o espectro cego anima-se de novo, devolvendo a um corpo inerte de tez marmoreada a esperança de uma vida que, adocicada, o deleita como um néctar essencial.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O todo e o vazio em mim

Há, por vezes, uma fome em nós que não se cura com o alimento orgânico que levamos à boca em resposta a um qualquer instinto animal transitório, a uma necessidade fisiológica… Sim, sente-se um vazio diferente que de tão forte se palpa quase, que de tão pesado nos verga sob a sua pressão indomável, tão açambarcador que nos arrasta para o centro do seu vórtice como que numa inspiração profunda; um vazio que nos esvazia num ciclo vicioso de aniquilação descontrolada.
De tão aflitivo e envolvente, é este domínio desabitado, quase viciante em si mesmo, levando-nos ao sabor do infortúnio por águas profundas e desconhecidas do nosso ser emocional como se navegássemos num mar de lágrimas do nosso próprio choro mudo, sem bombordo, sem destino.
Mas como nas folhas de um livro, existe sempre uma página do outro lado… no seu papel de um imaculado branco, traçadas em pigmentos brilhantes derramados pela mão de um fado desconhecido, se encontra um todo cuja plenitude metafísica sacia até o mais ávido e sôfrego famélico, que o preenche na sua indubitável falta de qualquer coisa, na companhia de uma solidão há muito só.
É curioso, de facto, que, de repente, numa voz terna e quente que transporta no seu timbre toda a beleza da vida, encontremos a parte de nós que não sabíamos que se havia perdido no caminho da nossa existência auto-centrada. Os nossos olhos abrem-se de novo e recebem nas suas retinas as marcas de fogo dos raios de luz reflectidos de uma pele de cândida porcelana; o verde telúrico de duas íris que nos nutrem de uma doce seiva inebriante; o escarlate de uma boca que traça no vazio o mais belo e divinal dos sorrisos. É curioso que na delicadeza alva de gestos perdidos seja a deslocação do ar o bastante para nos envolver e abraçar com o deleite melífluo e caloroso que apenas o amor reserva para nós.
Um beijo e um beijo só, que nos faça perder e encontrar na espiral vertiginosa daquilo que não enxergamos em nós.