quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Peel me a grape

Um tema absolutamente delicioso que aprendi a adorar na voz de Diana Krall e que descreve o paradigma da "high-maintenance girl". Na apaixonante voz de Dusty Springfield, há muitos muitos anos atrás... Enjoy.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Bedtime whisper...

Esta noite, encontramo-nos em sonhos... Nos meus, nos teus...tanto faz. Encontramo-nos. Shakespeare disse um dia que "nós somos feitos do tecido de que são feitos os sonhos". Por isso, dorme, meu bem... Deixa-te levar pelo torpor insensível que se apodera de ti no momento em que encerras as pálpebras. Envolve com os teus finos braços a lassidão inebriante que te eleva enquanto te aconchegas e... imagina que estou a teu lado.
Repara que o teu corpo exausto abre as portas a outro mundo. Sente que, com os últimos suspiros de um dia longo, inalas o pó das estrelas que ilumina os teus olhos mesmo quando eles se escondem da noite com a graciosidade de um último vislumbre, desintegrado em vapores de éter.
Pensa que sinto o mesmo. Que imagino o teu ser inerte sob os lençóis, a tua mente num despertar lento em que florescem os momentos que revisitas antes de adormecer. Pouso a minha mão delicadamente sobre a tua pele macia e recebo dela o teu calor numa oscilação ténue e quase imperceptível, enquanto o teu peito se enche no silêncio, enquanto o teu sorriso discreto e cúmplice se desenha na bruma.
Olho-te sem te ver. Sinto o teu aroma suave e inconfundível a invadir-me do desejo de te ter só para mim. Adivinho-te o coração em alvoroço com um doce beijo depositado sobre o pescoço escultural e descubro o teu sequioso morder de lábios, disfarçado pela forma como escondes a face inconscientemente na almofada, denunciado apenas pelo entrelaçar de pernas que não controlas no derradeiro momento em que te afastas da razão. 
Ficas assim, imóvel, bela, num quarto encerrado entre quatro paredes que alcançam apenas o acelerar da tua respiração, as incontidas mudanças de posição, a ânsia rumorejante e indefinível... sem jamais penetrar o limbo em que te encontras, algures entre o turbilhão do subconsciente e a pacífica ordem da realidade, preenchido por uma devassidão de desejo, sem julgamentos. 
Mas eu estou lá. Partilho contigo nas trevas aquilo que mais ninguém vê. Beijo-te secreta e furtivamente com a intempestividade que apenas o tacto testemunha. Delicio-me com o sabor escarlate e a cor adocicada do bâton que usas só para mim, mergulhado num quente e lânguido mar vermelho-sangue em que nos banhamos juntos.
Amo-te ontem, hoje, amanhã e para sempre, vezes e vezes sem conta, num continuum temporal que apenas a fantasia proporciona. E tu? Tu amas-me de volta... com a força e a vontade que deixaste de ter para dar lugar ao êxtase e impulsividade da fera que te tomou a mente numa ebulição singular, num momento fugaz que escaparia a um olhar desatento mas que eu pressinto nas trevas do nosso encontro oculto pela contracção súbita de todos os músculos da tua face, encostada à minha, pelo som discreto com que engoles a saliva, pelo respirar aflitivo em que expiras prazer apenas, pelos punhos fechados com que imaginas o apertar das nossas mão unidas...
Quero-te... Abraço-te... Deixo-te. O sol brilha já, erguendo, por entre os raios luminescentes, o véu de cumplicidade que o luar nos concedia, afastados da censura da realidade. Dissolvo-me num abrir de olhos teu, como grãos de areia que te escapam entre os dedos quando estendes os braços em busca de algo que não podes traduzir. Apagam-se as minhas feições, atenua-se a pressão leve do braço que te envolvia a cintura, caem sobre a testa os cabelos que te colocava gentilmente por detrás da orelha, enquanto admirava deleitado os teus traços tão perfeitos quanto indefinidos, desenhados que eram pelas sombras.
Fica a promessa do retorno, sob o anátema dos olhares alheios a nós, em resposta a um chamamento teu, a uma vontade irreprimível que se escape por entre os portões da consciência. Voltarei então com o ímpeto que o teu ser desperta em mim, sob a capa com que Morpheu nos presenteia, ficando a teu lado enquanto o quisermos os dois, até que o despertar e o dia nos separem. Dorme, meu bem...