segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Pensamento Solúvel

Já tinha tido, anteriormente, um blog - o Linha Arterial. Devo confessar que me dava um certo prazer fazer os posts ocasionais, descomprometidos, que me exigia, de tempos a tempos. Contudo, o facto de ficar preso a um formato único, enclausurado pelo raio de alcance da minha curtíssima experiência clínica, tinha os seus inconvenientes e, rapidamente, a temática que pretendia abordar com a criação do blog se tornou numa mordaça invisível que me impunha limites de pensamento e reflexão demasiadamente apertados. A criação de posts para esse blog, instantaneamente, a partir do momento em que me apercebi disso, passou de um acto natural de passagem do pensamento à palavra, para uma obrigação, um dever.
Escrever é, para mim, um autêntico e eterno diletante, a maneira de trazer à organização estruturada de uma folha de papel pautado, as suaves e instintivas ondas da reflexão livre e sub-consciente traçadas pela tinta permanente de um aparo delicado. É a sistematizada curiosidade do conhecimento de mim mesmo, a possibilidade de deixar no papel absorvente os fantasmas, as ansiedades, as vítórias e os momentos de felicidade etéreos desenhados alfabeticamente em pigmentos de tom azul ou negro.
Por isso deixo aqui o meu primeiro pensamento solúvel, sem prazer, sem dever, sem pretensões falsas ou promessas a cumprir, com a intensidade premente de dedos que teclam ao sabor de impulsos sinápticos aparentemente aleatórios. Que seja este um sinal de que mais virão, com o tempo, em resposta singela à vontade exigente mas espontânea de esvaziar o armário de esqueletos escondidos do meu próprio ego.